sábado, 1 de dezembro de 2007

Segunda Resenha de Michelle Elizabeth

Universidade Federal de Pernambuco
Centro de Artes e Comunicação
Departamento de Comunicação Social
Disciplina: História das Artes (cênicas)
Professor: Micheloto

Aluna: Michelle Elizabeth Silva Martins

Teatro do Absurdo

Fonte: (http://claustrofobias.blogspot.com/2006/09/teatro-do-absurdo_13.html)

Teatro do Absurdo é uma designação genérica formulada pelo escritor e crítico francês Martin Esslin para designar um importante acontecimento, no Teatro do século XX, que rompe com os conceitos tradicionais do teatro ocidental. (Este estilo nasceu do Surrealismo, movimento em que cultivou bastantes críticas à sociedade e explorou os sentimentos humanos. Buscava representar nos palcos a hipocrisia e os conflitos da sociedade, apontando os valores morais como os pontos principais por tais tensões.


O absurdo das situações, mas também a desconstrução da linguagem*, enquanto tal, conferiu a este acontecimento um movimento dramático de marcada profundidade. Denunciar a futilidade do quotidiano, a existência despida de significado e colocar em cena a irracionalidade que grassa no mundo e onde a humanidade se perde, são os objectivos principais.


(Além de que, a maior influência das peças desse estilo era a crítica às idéias da burguesia ocidental, a qual se desfazia do mundo real devido a suas fantasias e descaso às conseqüências negativas que suas ações traziam ao resto da sociedade.)


Nesta corrente se inscrevem, desde logo, o teatro de Beckett (autor do clássico Esperando Godot e quem ganhou o Prêmio Nobel em 1969), Ionesco, Arrabal, e as primeiras peças de Adamov e de Genet. Bebendo nas fontes filosóficas, esta concepção da arte de representar encontra apoio nos escritos teóricos de Antonin Artaud e na noção brechtiana do efeito de distanciamento (um ajustamento da representação dos actores e da organização geral do espectáculo de modo a realçar a expressão da crítica social, tendo como finalidade o fortalecimento de uma consciência de classe nas massas). A aparente condição absurda da vida é um tema existencialista que encontramos também em Sartre e Camus, mas em que estes autores recorrem à dramaturgia convencional, desenvolvendo o tema segundo uma ordem racional.


(O comportamento humano é um assunto bastante central no Teatro do Absurdo, a relação das pessoas e seus atos, em que se buscava estimular a reflexão do público quanto às críticas que lhe eram apresentadas nas peças, trazendo assim, contextos bastante trágicos.)


Nesse ambiente pós-guerra floresce a tentação dos escritores pela experiência de um contacto mais directo com o público, evidenciam-se, pela importância das suas obras: Henri de Montherland (La Reine Morte, Fils de Personne, Malatesta, Le Maître de Santiago, Port-Royale, La Ville dont le Prince est un Enfant, La Guerre Civile); Albert Camus (Calígula, Le Malentendu, Les Justes, LÉtat de Siége, Requiem pour une Nonne, Les Possédes); Jean-Paul Sarte ( Les Mouches, Huis Clos, Morts sans Sépulture, Les Maines Sales, La P. Respectueuse, Le Diable e le Bom Dieu, Nekrassov, Les Séquestrés d’Altona). Depois surgem Jean Genet (Les Bonnes - 1947), E. Ionesco (A Cantora Careca e A Lição – 1950) e S. Beckett (À Espera de Godot - 1953), que iniciam a geração da abordagem expressionista, psicanalítica (o Teatro do Absurdo buscou elementos também na Psicologia), que partindo de Rimbaud, Lautréamont, Jarry e Strindberg desaguam em Michaux, Kafka, Artaud e outros. É o tempo em que as angústias existenciais, as revoltas interiores, as tentações niilistas se cristalizam na sátira e na ironia repleta de humor negro. O teatro proclama uma vontade revolucionária de mudar a vida.


Indubitavelmente influenciado pela peça Huis Clos**, de Sartre, o Teatro do Absurdo não foi, porém, nem um movimento nem uma escola e todos os criadores implicados mostram-se extremamente individualistas formando um grupo muito heterogéneo. Em comum, partilham a rejeição do teatro tradicional e a adopção da caracterização psicológica, da coerência estrutural e do poder da comunicação pelo diálogo.


Nos anos 50, Samuel Beckett e Jean Vauthier - herdeiros de Alfred Jarry e dos surrealistas - introduzem o absurdo no seio da própria linguagem, pondo em evidência a dificuldade que temos em comunicar e compreender o verdadeiro sentido das palavras, e a consequente angústia de o não conseguirmos.


Recorrendo a processos de distanciação**** e de despersonalização estas peças desmontam as estruturas da consciência e da lógica da linguagem e expõem os anti-heróis sujeitos à sua fatalidade metafísica, seres errantes destituídos de referenciais, como que aprisionados por forças invisíveis num universo hostil. E é essa fragilidade que se denuncia ao mostrar o abismo que existe entre os princípios nobres que somos capazes de enunciar e eleger e a praxis do quotidiano.


As peças obedecem a uma lógica assente na caracterização psicológica e no estatuto das personagens, no enredo, nos objectos e no espaço – identificado/relacionado com a personagem.


(Uma grande crítica encontrada nas peças do Absurdo está ligada a alienação do homem, o que lhe tira a criatividade, magnífica capacidade deste ser, o que o transformou num indivíduo bastante passivo e que está sempre produzindo desculpas para essa sua posição.)


Podemos identificar, na base do Teatro do Absurdo, o contributo de Alfred Jarry (1873 – 1907) e como percursores: Guillaume Apollinaire (1880 – 1918); Antonin Artaud (1893 – 1948); Roger Vitrac (1899 – 1952); Julien Torma (1902 – 1933). Dos pioneiros, autores que vão impulsionar verdadeiramente este teatro d’avant-garde, destacam-se: Samuel Beckett (1906 – 1989); Arthur Adamov (1908 – 1970); Eugène Ionesco (1909 – 1994); Jean-Paul Sartre*** (1905 - 1980). E na galeria dos herdeiros constam: Boris Vian (1920 – 1959); Edward Albee (1928 – ); Harold Pinter (1930 – ); Slavomir Mrozek (1930 – ); Fernando Arrabal (1932 – ); Tom Stoppard (1937 – ).


* Os textos procuram “corromper” os seus significados tradicionais, criando novos contextos e permitindo novas leituras, por vezes num processo contínuo e vertiginoso.

** Em Hui Clos, Sartre reúne três mortos condenados a dialogar pela eternidade. Cada personagem é o inferno de outro na medida em que passa em revista a sua vida no intuito de a criticar. O inferno é, pois, a obrigação de ver a sua vida julgada pelos outros sem ter possibilidade de a modificar, de corrigir os erros, pois a morte pôs fim à faculdade de escolher. Sarte mostra, assim, que a existência é o lugar essencial para as nossas escolhas e para o exercício da nossa liberdade já que os nossos actos implicam uma responsabilidade à qual não nos podemos eximir.

*** É inquestionável o papel de Sartre no Teatro de Vanguarda. Já esta referência como um dos impulsionadores do Teatro do Absurdo é muito discutível. Porém, na dificuldade em estabelecer as fronteiras entre estes dois fenómenos culturais, e na ausência de conhecimento concreto sobre onde começa e termina a influência do teatro de vanguarda no teatro do absurdo, faço eco desta perspectiva enunciada por uma certa "escola" francesa de história do teatro.

**** "distanciação" no sentido brechtiano do termo, i. e. "afastar a familiaridade, onde possa haver qualquer identificação do espectador com as personagens, e qualquer atitude passiva, para suscitar uma atitude desperta e crítica, capaz de fazer apreender a lição social que a peça comporta" (in pimentanegra).

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