quinta-feira, 8 de novembro de 2007

RESENHA DE AUGUSTO VILA NOVA

Commedia Dell’Arte


Nascida na Itália, a Commedia Dell’Arte trouxe de volta um pouco da pantomima( teatro gestual que faz o menor uso possível de palavras maior uso de gestos). É a arte de narrar com o corpo, do ridículo e da vulgaridade que as comédias primitivas gregas expunham após as Tragédias Gregas no tempo do Império Romano. (as comédias gregas não eram tão vulgares assim.) Porém, a diferença estava nos trajes carnavalescos (os atores utilizavam máscaras representativas), nos temas abordados, na alegria e euforia que dominavam os palcos do século XVI. Os reis e rainhas não tinham mais o seu próprio menestrel, pois preferiam se dirigir aos simples teatros com toda a pompa de uma majestade para assistir junto com os seus súditos às engraçadas peças teatrais que buscavam abordar os temas mais surpreendentes. Esse gênero pedia muitíssimo de seu intérprete, pois esse tinha que seguir a risca o roteiro(como o interprete tinha que seguir a risca o roteiro se uma das características da Commedia Dell’Arte era justamente o improviso?), porém, preocupando-se com o público, que pagava o ingresso somente para rir. Caso percebesse que o público não estava achando engraçado o roteiro original, podia improvisar caso tivesse alguma idéia realmente engraçada.(o improviso era esperado pelo público na maioria das vezes).
As mulheres eram proibidas de atuarem no palco, de forma que os homens é que faziam os papeis femininos. Para ficar mais real, os homens afeminados eram convidados para o papel das donzelas, o que deixava as cenas ainda mais engraçadas para o público. Os atores se engajavam dentro de uma companhia de teatro e tornavam-se famosos por um estilo único de personagem. (a enorme responsabilidade que o ator tinha em desenvolver seu papel acabou especializando o personagem e, consequentemente, levando o interprete a desenvolver apenas esse personagem, mantendo-o até a morte). O teatro veneziano trazia sempre os mesmos tipos de personagem em suas comédias: o Pantaleão, o Arlequim, o Criado, o Doutor, o Capitão, a Colombina, a Noiva, a Ama, o Pai da Noiva e o Herói, constituindo sempre os mesmos tipos de roteiro(“sempre” é generalizar demais). Normalmente os roteiros da Commedia Dell’Arte tratavam de contar a história de dois namorados que lutavam contra a negação dos pais, enfrentando,assim, uma série de problemas para se casarem. Foi na Commedia Dell’Arte que o inglês William Shakespeare (1564 – 1616) buscou inspiração para seus espetáculos teatrais, pois, apesar do sucesso das comédias, os dramaturgos tinham vontade de alçar vôos bem maiores, escrevendo textos com temas mais profundo, com uma linguagem mais bem formulada e não vulgar. Shakespeare, certo da necessidade de elevar o nível das peças apresentadas, em plena era da Commedia Dell’Arte, teve a coragem de utilizar os temas esdrúxulos e ridicularizados na comédia em novas abordagens, com textos ricos, poéticos e dramáticos. Foi o caso do espetáculo Romeu e Julieta ( A peça Romeu e Julieta é uma tragédia, e não uma comédia) , que, seguindo o tema abordado pela maioria das comédias (guerra entre duas famílias e um amor impossível), foi apresentado ao público com um forte teor dramático, causando furor na época, por causa das belezas poéticas e da concepção tocante, que agradou até mesmo Sua Majestade.( o conteúdo das peças de Shakespeare era muito mais irreverente comparado aos das obras da Commedia Dell’Arte). Porém, a Commedia Dell’arte teve o papel fundamental dentro da sociedade de desmistificar o teatro, que durante séculos seguiu um padrão extremamente opressor e paradigmático, abrindo as portas para uma nova forma de dramaturgia, sem os dogmas que, durante muito tempo, impossibilitaram a criação livre de dramaturgos e encenadores. A Commedia Dell’Arte serviu de inspiração para autores como Carlo Goldoni (1707 – 1793), autor de Mirandolina, que, entre outros notáveis, ajudou a criar a concepção da Comédia de Costumes, um estilo realista de comédia, mais responsável e mais restrito no que se diz respeito ao uso da improvisação. No Brasil, a comédia de costumes tem em Martins Pena, autor de O Noviço e Os Três Médicos, e França Júnior (1838 – 1890), autor de Os Tipos da Atualidade e Como se Fazia um Deputado os pontífices desse gênero, que, temperado com muita ironia e caricatura, tornou-se tradição no país no final do século XIX. A Commedia Dell’arte também é vista como a precursora de diversas vertentes de teatro do povo, que culminaram no mito Shakespeare, cujas comédias (como Alegres Comadres de Windsor) fazem sucesso até hoje.

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