segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Resenha de Pricila Barros

A ORIGEM DO TEATRO PORTUGUÊS

Primeiramente a história do teatro não se deve limitar a analise dos textos dramáticos, o que seria apenas evidenciar a história da literatura. O ator, o espectador é também juntamente com o autor e texto expressão viva desta arte.
Assim sendo, afirma-se que o teatro português nasceu nos alvores do séc. XVI e que teve como fundador Gil Vicente, perecendo crer que durante quatro séculos, decorridos deste do inicio da nacionalidade até à representação do primeiro ato vicentino, o instinto teatral tenha sido anulado. Estas são sustentadas na ausência de textos dramáticos anteriores a Gil Vicente, o que suscitou a advertência sábia de Leo Spitzer para a necessidade de ao teorizar a informação ter em conta os fatores permanentes de cultura, o que leva a rejeitar a tese absurda que o teatro em Portugal antes da era vicentina fosse inexistente.
De fato, como seria possível a não existência em Portugal de manifestações dramáticas próprias de Idade Médio, quer de natureza religiosa como profana, tendo em conta a interdependência das literaturas portuguesa e espanhola-lirismo galaico-português, bem como o ritual litúrgico das ordens religiosas, os jograis e trovadores que deambulavam por terras lusitanas com os seus episódios burlescos e novelas de cavalaria. A questão situa-se evidentemente numa carência de textos escritos, ou ainda rudimentares, a juntar ao caráter oral de todas as literaturas nos seus primórdios. Digamos, pois que com Gil Vicente o teatro português abandona a sua fase embrionária para assumir uma existência artístico-literária. Sintetizando: sai da pré-história para entrar na sua historia propriamente dita.
O testemunho mais antigo que se conhece de manifestações teatrais na Idade Média remonta ao ano de 1193 trata-se de um documento relativo à doação de umas terras no lugar de Canelas da freguesia de Poaires do Douro que o rei D. Sancho I fez ao jogral Bonamis e ao seu irmão. Foi a paga de um arremedilho que estes teriam representado na sua corte. Essa doação foi confirmada em 1222 por D. Afonso II a Bonamis e aos herdeiros do seu irmão, entretanto já falecido. O arremedilho seria assim a célula mãe do teatro português, a partir do qual se formou segundo Teófilo Braga o fio condutor da tradição dramática.
Fonte:
http://www.oteatro.net.com/historiadoteatro.htm


Comentários:

Entre o final do séc. XV e início do XVI começa uma contestação do modo teocêntrico de ver o mundo. É neste contexto que nasce o Humanismo e decai a poesia trovadoresca. A economia mercantilista, a ascensão da burguesia e o surgimento das cidades permite um tipo de vida diferente da vida feudal. Tem-se a partir deste contexto um ambiente favorável ao surgimento do teatro vicentino. Gil Vicente soube usar o “momento”, retratou em suas peças a sociedade da época e utilizando-se da sátira atingia a fidalgos, bispos e plebeus. Dessa forma “caiu no gosto do povo”.
Afirmar que o teatro em Portugal antes da era vicentina era inexistente, parece absurdo, assim como afirmar enfaticamente que existia um teatro anterior à era vicentina, já que não existe como o autor do texto em questão afirmou: “textos escritos, ou ainda rudimentares, a juntar ao caráter oral de todas as literaturas nos seus primórdios”. Parece ousado demais levantar uma questão com provas apenas empíricas. O fato é que Gil Vicente deixou um legado de obras que são encenadas, ainda hoje, nos teatros nacionais em virtude da atualidade de seus temas. Ele soube conciliar seu talento e prazer com o momento histórico propicio, fez isto com uma excelência que lhe valeu o titulo de fundador do teatro português.
Quando no texto o autor narra o possível documento do nascimento do teatro português: “trata-se de um documento relativo à doação de umas terras no lugar de Canelas da freguesia de Poaires do Douro que o rei D. Sancho I fez ao jogral Bonamis e ao seu irmão”. O que o autor não considera é que um episódio isolado, de talvez pouca significação, não inicia uma “Era”, não marca a história o êxito do teatro não está somente no autor, mas também no espectador que por um fator qualquer, em um dado momento histórico está mais receptivo a um “novo desafio”.
Portanto com Gil Vicente o teatro português não abandona a sua fase embrionária para assumir uma existência artístico-literária. Ele surge em um momento único, com um publico e um contexto especifico e com características próprias a ponto de o teatro em Portugal antes da era vicentina ser considerado inexistente.

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