terça-feira, 16 de outubro de 2007

Resenha de Nara Maria

TEATRO DA CRUELDADE
Dramaturgo, ator, escritor, desenhista e poeta francês, Artaud (1) criou, nos anos 20, o Teatro da Crueldade, que visa afligir e incomodar o público, fazendo-o perceber quanto à vida como está é intolerável, e mesmo imprimir um senso de urgência à mudança (2). Na sua concepção, trata-se de um "teatro de sangue, um teatro em que cada performance será feita para acrescentar algo tanto para o ator como para o espectador; o que há mais não é atuação, é ação (on ne joue pas, on agit)", segundo escreveu em uma carta para a atriz Paule Thévenin (3). Em texto de 1947, Perturbando o Ator (4), afirmou que "o teatro tornou-se o mártir de todos que arriscaram a humanidade, todos que quiseram moldar a forma da existência. Juntas de membros quebradas e lascas de nervos, fraturas de ossos sangrentos que protestam arrancados do esqueleto da possibilidade - teatro é esse excitável encantamento que possui revolta e guerra como inspiração e causa..." (5)

Fonte: http://www.cascavel.pr.gov.br/cultura/Imprensa/detalhes.php?id0=11189


COMENTÁRIOS

1 Antonin Artaud foi um dos primeiros diretores surrealistas, sendo incisivo ao tratar de suas concepções sobre o teatro: “O teatro é igual à peste porque, como ela, é a manifestação, a exteriorização de um fundo de crueldade latente pelo qual se localizam num indivíduo ou numa população todas as maldosas possibilidades da alma”. Ele desejava uma revolução para promover mudanças sociais radicais e achava que o teatro poderia ser um meio para que tais transformações ocorressem. Por não visar fins sociológicos e nem apresentar propostas político-partidárias, ele rompeu com os surrealistas quando estes aderiram ao comunismo.

2 O criador desse teatro é um contestador vigoroso do teatro naturalista, principalmente o francês, que se apresentava bastante retórico e paradigmático. O Teatro da Crueldade pregava a utilização de elementos mágicos que hipnotizassem o espectador, não sendo, para isso, necessário o uso de diálogos entre os personagens. Fazia uso, também, de muitas danças, músicas, gritos, sombras e uma forte iluminação e expressão corporal. Esses, sim, seriam os elementos necessários para comunicar ao público a mensagem desejada e, no palco, reproduzir os sonhos e mistérios da alma humana. Foi muito influenciado pelo teatro oriental, que, por sua vez, manteve suas características culturais milenares e propunha saudar o desconhecido e constituir um universo ingênuo que não buscasse a explicação e a psicologia, e sim uma visão individual sobre o mundo, diferentemente do teatro ocidental.

3 Colaborou intensamente com Artaud quando este estava em seu período de maior produtividade.

4 Além desse, existe outro livro de grande repercussão: O Teatro e seu Duplo, no qual, o teatrólogo reafirma seu descontentamento com o teatro europeu, denunciando a perda do seu caráter primitivo. No prefácio do mesmo, faz ainda uma reflexão sobre a cultura, apresentando dois modos de entendê-la. Em uma dessas maneiras, a que predomina na sociedade ocidental, separa a cultura da vida, mostrando-a como um conjunto de conhecimentos e informações que deve ser adquirido, deixando transparente, por essa perspectiva, uma noção elitista e dualista que a cultura carrega. “Como se de um lado estivesse a cultura e do outro a vida; e como se a verdadeira cultura não fosse um meio refinado de compreender e exercer a vida” (ARTAUD, 1993: 04).

5 É válido ressaltar que o texto acima não desvincula a vida de Antonin Artaud do surgimento do Teatro da Crueldade, mostrando, desse modo, o quão estão relacionados, pois essa modalidade do teatro nasceu exatamente do não-conformismo de Artaud diante daquilo que era apresentado. Foi crítico ferrenho do que seria o teatro puramente comercial porque achava “antipoético” tal exposição da arte à comercialização. Apesar de não ter sido reconhecido em vida, o teatrólogo contribuiu de maneira relevante para o teatro, quebrando com os padrões das técnicas clássicas e dando, assim, um outro panorama à arte dramática.

Nenhum comentário: