Teatro de feira
No início do século XVII, ao mesmo tempo que Shakespeare e Lope de Vega iniciavam seu trabalho em Londres e na Espanha, haviam em Paris seis grandes feiras, mas apenas duas tiveram reconhecida importância como locais constantes de manifestação teatral(na verdade, varias tiveram reconhecimento, mas nao tiveram tanto tempo de duracao quanto essas duas manifestacoes): as feiras de Saint-Germain, que durava de 3 de fevereiro à Páscoa e de Saint-Laurent, no verão europeu, do final de junho ao final de outubro, nos quais se apresentavam artistas variados em sucessivos números de dança, canto, malabarismo, acrobacias, mímica, números de bonecos, animais amestrados e pequenas cenas teatrais de caráter farsesco.
Os espetáculos da feira, empreendimentos privados e não permanentes, não eram subvencionados pelo rei nem por sua entourage, e dependiam apenas do comércio nas bilheterias. O sucesso era o primeiro objetivo de seus espetáculos que não se propunham apenas a sensibilizar o público, mas a conseguir que este desse algo em troca dessa sensibilização. Não realizavam um teatro de repertório nem de alternância de peças, como faziam os elencos estabelecidos sob a égide real(nem sempre era assim nos teatros solicitados pelos reis, uma vez que eles mesmo contratavam os teatros feitos nas ruas para se apresentar no palacio). Interpretavam a mesma peça até suprir a platéia ou ver esvaziar os assentos, assim, poucas peças foram representadas mais de sete vezes .
O caráter desse empreendimento, tanto pelo público a que se destinava como pelas condições econômicas que o emulavam, muitas vezes precárias, era diferente dos elencos subvencionados e regulados pela monarquia. Esta produção no teatro das barracas de feira gerou uma enorme pesquisa do que aprazia o gosto popular, do teatro como puro divertimento, da busca do original, da fantasia, do que agradava a vida, do pitoresco, do cômico e do imaginativo, de tudo aquilo que pudesse ser colocado como valor de troca no mercado das ilusões(a tradicao dos teatros das feiras, portanto, persiste ainda no teatro moderno).
Neste reino das ruas e de circulação das mercadorias, impunha-se uma procura do original, do diverso, da fuga das normas, já que nos limites da monarquia, pressentindo-se, talvez, sua futura derrocada, elaborava-se uma constante sistematização de seus hábitos nas danças da corte, nos costumes, nas formas de representação do espetáculo que agradasse à presença real.
Esta manifestação teatral sofria a perseguição e a censura efetivada pelo Estado Francês e ou pelos organismos reais da lei e da ordem, pela Igreja, e mesmo pelos próprios artistas competidores, logicamente, os que se encontravam sob a proteção do manto real(o Estado Francês nao impunha limites para a apresentacao desses teatros, desde que as pecas representadas nao fossem de encontro com os interesses da coroa real. Ja’ a Igreja censurava-os bastante). Isto irá obrigar o teatro das barracas de feira a utilizar ou experimentar várias formas e estilos de encenações dramáticas: desenvolver personagens que compartilhassem a mesma cena, mas que não poderiam dialogar, juntando-se apenas de forma metafórica num todo; cenas sem fala; diálogos tirados do bolso dos atores em forma de pequenos rolos para serem mostrados ao público ou com cartazes expostos acima da caixa teatral seguros por crianças vestidas de anjo(a sua improvisacao compara-se a do teatro da comedia del`arte). O diálogo realizado era não apenas no palco, mas, com canções cantadas pelo público com atores disfarçados que o dirigiam, enquanto no palco havia atores emudecidos, mas atuantes; diálogos curtos e rápidos e sempre com abertura ao exótico.
A criatividade do teatro de feira francês ampliou o repertório de procedimentos teatrais, em relação às técnicas existentes de interpretação do espetáculo e em sua relação com a platéía, repertório jamais sonhado anteriormente por qualquer gênero teatral.
As citações paródicas de tragédias célebres e dos espetáculos realizados pelos elencos oficiais eram constantes, mostrando que esses artistas conheciam as formas teatrais(eles nao conheciam nada, eram apenas tentativas de se fazer teatro, as quais foram bem sucedidas. Sucesso alcancado nao pelo suposto conhecimento dos artistas dito no texto, mas sim pela suas criatividades e improvisacoes que agradaram o publico em cheio). As réplicas eram rápidas, as canções a serem cantadas pelo público sempre agradáveis e precisavam ser de fácil aceitação, mas o elemento auditivo não vinha mais que complementar este tipo de teatro, no geral, o principal era o complexo gestual apresentado para o público. Os elencos reais subvencionados caminhavam para uma forma estruturada e totalmente regulada de manifestação; o teatro das feiras, por outro lado, ia gerar um modo mutante mais de acordo com as leis de livre comércio que as ditadas pelas bulas papais ou reais, o que permitiu sua acomodação a diversos tipos de intervenção.
Este tipo de espetáculo originado nas feiras, dentro do espírito comercial do deixa fazer, deixa passar, não buscava uma forma pura, ao contrário, propunha a mistura de gêneros ou um gênero das misturas, de épocas, de tons, com audácia de linguagem, transgressão calculada, utilizando a irreverência cotidiana, os lazzi, as acrobacias, o jogo de palavras, a sátira, os sarcasmos, as ironias e piadas a granel.
Dentro desse tipo de teatro, a assimilação explícita das estruturas dos outros gêneros existentes, como as músicas repetidas de operetas ou das comédias musicais, ou da paródia contínua traziam não apenas a introdução dessas estruturas ou elementos destes outros estilos dramáticos, mas também implicitamente uma crítica aos limites préestabelecidos dos gêneros ou formas teatrais contemporâneos.
Retirado de: http://pt.wikipedia.org/wiki/Teatro_de_feira
segunda-feira, 26 de novembro de 2007
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário